Resumo: O que vemos, o que nos olha, de Georges Didi-Huberman

Apenas capítulos 1, 2 e 3

eduardo souza
4 min readFeb 23, 2024

Capítulo 1 |A inelutável cisão do ver

O primeiro capítulo trata da cisão fundamental que fazemos “dentro de nós o que vemos daquilo que nos olha” (p. 29). Ele vai partir de um trecho de Ulisses, para instituir a premissa de que “o ato de ver só se manifesta ao abrir-se em dois” (p. 29). Daí, ele vai dizer que a visão está ligada ao tátil, ao corpo. Em outro trecho, Joyce fala de um dentro da coisa que nos olha. Esse trecho traria dois ensinamentos:

  1. A tese fenomenológica de que “ver só se pensa e só se experimenta em última instância numa experiência do tocar” (p. 31). Ou, dito de maneira mais longa, “todo visível é talhado no tangível, todo ser tátil prometido de certo modo à visibilidade, e que há invasão, encavalgamento, não apenas entre o tocado e quem toca, mas também entre o tangível e o visível que está incrustado nele” (apud Merleau-Ponty, p. 31)
  2. O ato de ver remete a um vazio: “devemos fechar os olhos para ver quando o ato de ver nos remete, nos abre a um vazio que nos olha, nos concerne e, em certo sentido, nos constitui” (p. 31)
    Ele, então, envereda para explorar esse vazio por meio de um personagem de Ulisses, Stephen Dedalus. Depois de perder a mãe, o ver dele adquire “uma coerção ontológica, medusante, em que tudo o que se apresenta a ver é olhado pela perda de sua mãe” (p. 32). Assim, vai explorar um pouco a descrição do mar feita por Joyce. Isso é profundamente psicanalítico: ver seria “um trabalho do sintoma no qual o que vemos é suportado por (e remetido a) uma obra de perda” (p. 34).

Aqui, Didi-Huberman enfatiza a dicotomia anterior: ele coloca que há um ver-ter e um ver-ser. O ver-ter parece ter a ver com o tocar, com o ensinamento fenomenológico, enquanto o ver-ser está ligado a esse vazio, ao algo que nos escapa — essa é que seria a modalidade do visível inelutável. Esse segundo seria “o trabalho visual que deveria ser o nosso quando pousamos os olhos sobre o mar, sobre alguém que morre ou sobre uma obra de arte” (p. 34).

O exemplo fica claro quando ele distingue os conceitos medievais de imago e de vestigium: “o que é visível diante de nós, em torno de nós — a natureza, os corpos — só deveria ser visto como portando o traço de uma semelhança perdida, arruinada, a semelhança a Deus perdida no pecado” (p. 35).

Capítulo 2 | O evitamento do vazio: crença ou tautologia

O segundo capítulo vai aprofundar as perguntas do fim do capítulo anterior sobre como mostrar um vazio. Ele vai pensar isso a partir das representações feitas em túmulos, que mostram um corpo, alguém que não está mais lá. Ele aponta que há duas atitudes diante disso: tornar-se o homem da tautologia (p. 39) ou o homem da crença (p. 48), que produz um modelo fictício (p. 40).

Ao se aprofundar no segundo, ele aponta que essa atitude faz “da experiência do ver um exercício de crença” (p. 41). Nesse sentido, ele vai analisar como esse escape — que enseja a produção de imagens — se dá especificamente na iconografia cristã da produção de tumbas. Em uma rápida análise, ele mostra como a representação dos corpos saíram das tumbas e foram para as paredes, deixando os túmulos vazios para ecoar a crença cristã.

O fato é que “o homem da crença verá sempre alguma outra coisa além do que vê, quando se encontra face a face com uma tumba. Uma grande construção fantasmática e consoladora faz abrir seu olhar” (p. 48).

Capítulo 3 | O mais simples objeto a ver

No terceiro capítulo, ele vai analisar os procedimentos do homem da tautologia, aquele que “pretenderá eliminar toda imagem, mesmo ‘pura’, quererá permanecer no que vê, absolutamente, especificamente” (p. 49). Nesse sentido, ele vai encontrar a expressão máxima dessa atitude na arte minimalista dos anos 1950, sobretudo dos EUA. Ele vai entrar em uma discussão especifica das exigências dos minimalistas: 1) a especificidade (p. 53), 2) eliminar todo detalhe (p. 53), 3) eliminar toda temporalidade (p. 56); 4) eliminar o jogo de significações, tornar os objetos transparentes (p. 59).

O que me parece fundamental aqui é pensar as consequências dessa forma antidialética e tautológica da imagem: “Diante deles, nada haverá a crer ou a imaginar, uma vez que não mentem, não escondem nada, nem mesmo o fato de poderem ser vazios” (p. 59).

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eduardo souza

sempre isto ou sempre outra coisa, ou nem uma coisa nem outra | professor, designer e ilustrador | https://linktr.ee/souza_eduardo